Outra aplicação

Além de ser um instrumento para orientar o perfil das personagems o ator pode utilizar o Quadro de Antagônicos como reforço dramático para a cena. Através do treinamento pré-expressivo o ator “plasma” no corpo esse instrumento para utilizá-lo de acordo com a exigência da ação. Isso gera maior repertório para a personagem, alternando o ritmo e a forma, cena a cena, transformando a personagem num ser “vivo”, apto a surpreender e a manipular a “argila” do seu perfil para não torná-lo previsível.
Tomo como exemplo uma cena de Pai e Filho onde as personagens manipulam barbantes de costura enquanto dialogam: se o filho utiliza na ação o antagônico “velocidade” e o pai o antagônico “dilatação” de maneira fisicamente consciente (independentemente dos guias e contaminadores definidos no treinamento para o pai e para o filho), teremos uma modulação na energia sequencial das cenas, gerando um efeito criativo inesperado para a rotina rítmica do leitor/espectador que começava a se habitual com o porvir das personagens.
O exemplo da cena é meramente ilustrativo. O conceito pode se aplicar durante todas as cenas onde, cinestesicamente, se identifiquem outros antagônicos, sempre e quando haja motivação cênica para reforçar o dizer em questão – se for oral; ou para “significar” o dizer – se for uma cena sem verbo.
Nesse caso, o treinamento pré-expressivo como rotina anual de um grupo de atores-pesquisadores é fundamental para poder plasmar no corpo esse instrumento. Em trabalhos com prazo de validade, como a montagem de um espetáculo, é mais difícil efetivar sua aplicação além do guia e seus contaminadores, independentemente do período de ensaios. No caso de Pai e Filho as experiências anteriores de Cláudio em Entre Laço e Jorge no estudo sobre Clausura vêm facilitando essa aplicação.

Os antagônicos do pai

O trabalho pré-expressivo preconizado pela Pequena Companhia de Teatro, intitulado “Quadro de Antagônicos”, dá ao ator um acervo de matrizes a serem utilizadas em sua composição na cena. Um tempo exaustivo, onde o ator deve estar preparado e disposto fisicamente para exigir do corpo uma postura equilibrada de cada antagônico. Assim, quando vamos para o jogo, o corpo recupera os antagônicos em sua potência. Ao ator cabe começar a selecionar aqueles que podem ser utilizados para a construção da personagem. 
Num dado momento, quando Jorge Choairy já tinha bem definido o antagônico matriz/guia e seus contaminadores, eu ainda perambulava pela trilha dos perdidos, sem ter alguma definição consistente para a personagem e isso me angustiava, sobremodo. É que de quando em quando tudo me parece urgente, e essa urgência pode provocar uma certa angústia – eufemismo – no que toco.
Peso e Força – o ator e sua dramaturgia
Como tudo na vida de um ator é mais dramático do que o convencional, não durou muito é lá estava o “peso” determinando uma matriz/guia e a “força” como contaminadora. Se paro para refletir um pouco mais, vou perceber que a personagem carrega em si, também, traços dos antagônicos “tensão”, “lentidão”, “mínimo” e “dilatação”. É que, se se toma o “peso” como referência de totalidade (100%) e modula-se essa referência em 50 ou 70%, inevitavelmente teremos que ocupar esse espaço deixado com outros antagônicos. 
A insatisfação vai permanecer, em um grau menor ou maior, naquele que detém 41 dos 19 anos que imagina ter.

3ª Semana

Passaram-se três semanas desde o início do processo de montagem de “Pai e Filho”. Muito suor. Muito calor. Há alguns anos a pequena companhia de teatro utiliza o “Quadro de Antagônicos” para treinar seus atores e desenvolver suas encenações. O conceito é simples: partindo da idéia de “oposição” os atores experimentam, exercitam e desenvolvem seu repertório usando como instrumento um quadro que apresenta antagônicos como: força & fraqueza, dilatação & retração, peso & leveza, velocidade & lentidão, tensão & relaxamento, etc. Assim buscaremos o pai e o filho. Aqui contaremos. No palco mostraremos.